quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DÉCADA DE 90, TRANSIÇÃO OU MALDIÇÃO DO SAMBA?


O samba viveu tempos importantes para a sua história e para a forma de como ele está hoje em dia, tempo de repressão, tempo de glória, tempo de enfraquecimento e até tempo de ressurreição.
Na década de 10 houve a gravação do primeiro samba, mas especificamente em 1917, de autoria de Donga (até hoje há controvérsias sobre o autor), época que ainda os sambistas eram perseguidos pelo polícia e quem batucasse, fizesse samba na rua era preso. Na década de 20 os sambistas passam a ser procurados por grandes cantores que queriam letras, composições para seus discos e para cantarem nas rádios, nesse período começa intensamente a famosa venda de composições. No final da década de 50 surge a Bossa-Nova, que gerou uma imensa discussão entre os Bambas da época, uns a favor da “modernização” do samba, pois pela primeira vez desciam os morros e iam parar direto na zona sul, outros eram contra, com o argumento da “apropriação indevida” de uma cultura ou devido a “comercialização” de uma arte. Na década de 80 surge um novo modo de fazer samba, com novos instrumentos, novos compositores, estilo de batucar diferente, esse foi o movimento denominado: Cacique de Ramos, porque surgiu na quadro do bloco carnavalesco com o mesmo nome.
Chega a década de 90, surge um novo jeito de explorar a cultura, seus Bambas não eram mais vestidos com ternos de linho, agora eram roupas apertadas e coloridas, cordões e pulseiras de ouro pelo corpo, o gingado da malandragem abria passagem para o rebolado sensual, vários grupos surgiram e a palavra pagode, que antes representava as reuniões feitas por sambistas para cantarem samba, passou a ser usada como se fosse um novo ritmo (a explicação para a piada infame: Por que o Zeca Pagodinho toca samba e o Exaltasamba toca pagode? É essa!!! O Zeca era chamado de pagodinho porque vivia nas rodas de samba, ou seja, nas reuniões de bambas que eram chamadas de pagode e o Exalta no início da carreira tocava samba de raiz, a mudança de estilo veio depois, pronto! Não me contem essa piada novamente). O movimento de 90 foi o que mais mudou a essência daquele primeiro samba de Donga, a juventude da época que queria estudar o samba ou apresentá-lo de forma inicial (raiz) recorriam a década anterior (1980), daí a importância do Cacique de Ramos , ele foi um primeiro degrau para uma juventude que iria se aprofundar ainda mais no samba, depois da busca pelo Cacique a maioria passa a conhecer os grandes Bambas, como: Cartola, Noel e outros, por isso o movimento do Cacique de Ramos foi tão importante, é uma ponte para novos conhecimentos, uma espécie de túnel do tempo que levava para o passado. Hoje alguns desses fundadores do Cacique até fazem um estilo mais próximo da década de 90, mas já obtiveram suas importâncias.
De 1990 em diante os sambistas (que cultivam a essência primária do samba) tiveram que sofrer a equiparação com um estilo totalmente diferente, porém, tido como igual. Lembro que em tudo existem exceções e devem ter surgidos na década de 90 bons sambistas, embora não lembre agora. O que aconteceu na época foi que os novos grupos escreviam suas composições no estilo da música sertaneja (que também já sofria mudanças), um sucesso na época, e juntavam com a batida do samba, que tinham aqueles mesmos instrumentos criados no Cacique.
Não estou criticando o novo estilo da década de 90, só pergunto: DECÁDA DE 90, TRANSIÇÃO OU MALDIÇÃO DO SAMBA?

Um comentário:

  1. Cuidado meu camarada... Muitas vezes a vontade (necessidade) de classificar a realidade nos leva à miragens nubladas. Perdi a conta das vezes, por exemplo, que chamaram a década de 80 de "a década perdida". Só esqueceram de lembrar que foi nesta época que surgiram Legião, Paralamas, Barão, entre outros muitos... Além do que foi nesta mesma década que cresci, virei gente, amei, fui feliz... Década perdida é o c...!!!!
    Assim é preciso distancia pra classificar, como é preciso navegar nas ondas de um samba que embale nossos corações bandidos, perdidos, sentidos, infinitos...

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